terça-feira, 7 de abril de 2009

respeitável público

Invado o dia para dizer: este blogue acabou
Sem particular tristeza a imprimir
caixa de panetone ringtone babel
gostaria de agradecer aos que escreveram
aos que não escreveram e leram
aos silenciosos devo dizer que hoje entendi que enquanto homem eu sou um de 32 anos
prestar homenagem as morsas macho do pacífico que são coitadas porque se alguém diz "o morsa" logo se confunde com o código morse em que convive toda imaginação literária dos caçadores de acasos
e principalmente aos que viveram dizer como alguém dizia:
beijos para todos especialmente para nós.

*cheers!
*até logo.
*adeus.

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terça-feira, 31 de março de 2009

Ungeheueren Ungeziefer

"Als Gregor Samsa eines Morgens aus unruhigen Träumen erwachte, fand er sich in seinem Bett zu einem ungeheueren Ungeziefer verwandelt." Embora eu nunca tenha despertado na minha cama transformada numa criatura rastejante ou praga doméstica, muitas vezes, depois de frações de tempo em que meu cérebro parou de funcionar, me vi novamente localizada no mundo com a sensação de ter esquecido a carga social e genética que me faziam estar ali, fazendo o que eu estava fazendo. Não me senti como um besouro, mas um inseto genérico moldado por aquela substância cujo nome esqueci, duríssima, que compõe seu corpo crocante e mantém represado o plasma indefinido que se traz dentro.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Clemente Falcão e Engenheiro São Paulo

Sobre o mapa, está traçado tudo o que já houve. O techo de trem que vem do Brás ao Tatuapé aparece liso, à distância; mas se aproximo a vista, duas bolotas na linha preenchida por tracejado preto e branco. Duas estações antigas que ressurgem das sombras e do pó nas quais a modernidade as jogaram. Gritos do passado, traves de corberturas que clamam ou brotam: esqueletos destelhados e despossuídos. Afinal, por que no Tatuapé há o Cemitério da Quarta Parada, sendo que só há duas estações de trem? As outras duas, presas no passado com seus trens defuntos, vivem na memória dos mais velhos (poucos). Quem diria que o passado de cinquenta anos seria tão difícil reconstruir? Arqueologia das novidades.

sexta-feira, 27 de março de 2009

monólogo

you are my center/ when i spin away/ out of control on videotape/ on videotape
Radiohead



o seu peito meu_essa fresta, por que não?_chega mais escutarei_sozinho nas tardes de abril_o barulho dessa coisa_ter saído sorrindo dizendo que sim quando não (isqueiro sem gás) não pedi seu número_pensei praquê_sabe, ganhei um bom-bom esses dias_guardei na bolsa_vai passar pra frente né_lembro da sua voz (furtiva lacrima) convencida perto cinco anos atrás na buaty limpa_eu, você em cada bueiro por aí_seu diabo traz agora a adolescência passando o emprego como uma roupa_continuando_realmente pentear cabelo não é pra mim_o número meu anote é mil novecentos e sessenta e quatro oitenta e nove dois mil e nove. ali na esquina vou comprar_pão_p.s. parabéns pela cueca e pode ficar com o batom.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Diário de Estância, XIX

que espécie de amor é possível nas Laranjeiras?, posto melhor: de que guerrilha bem ao fundo nasce a compulsão de ser fiel? Cano à boca, juramento à praça – figurar a vanguarda da fuga, os pés pelando. Nunca discutiremos política, Peter. Temas de filmes-catástrofe dos anos 70, talvez, mas nunca política. Desertamos a praça e fazemos serenata aos nossos amantes ausentes. E que espécie de amor é possível numa praça? Somos tão ordinários assim, tão comuns (tão comunais)? Os dias rateiam, você dá fé de interurbanos, gelatinosas juras de amor-sublime-amor. Creia-me (believe you me), você acredita. Velhos espigões tremem ao sol. Outono. Quanto a mim, bom, o que posso dizer? Casei-me com meu trabalho.

quarta-feira, 25 de março de 2009

duelo-dueto

Tudo isso começou, de certo modo, nos corredores de uma faculdade de ausências. Eu não sei quando foi a primeira vez, você sabe?, mas sei que uma das segundas foi em frente a biblioteca e alguma contenção. Distante o guardei como um cumprimentar, aos tantos. Quantos anos isso, dois ou três? Não fomos um amor à primeira vista, nem deixamos de ser. Sempre por inteiro. E, no intervalo, houve um café na História em que acostumados a falarmos com outros, não nos ouvimos os paradigmas da ruptura: é pelo novo, isso, conversa de futuro pontuada pelo já é. Não me estranho em dizer que foi esse blogue, teu convite, que nos fez, os melhores amigos. Texto. Agora que somos outros já não tenho mais medo que isso aqui acabe.

terça-feira, 24 de março de 2009

Cortina japonesa

Em meu quarto de menina, no prédio em que moramos antes do pai morrer, cabia a cama e um armário de duas portas. Tinha um espelho na parede e cortina japonesa sobre a janela basculante. Eu achava a casa da Tamy mais bonita que a minha. Não gostava tanto dela, sim de sua casa. Um dia me fechei no quarto, sentei de costas para a porta e tentei colocar um lápis de madeira na vagina. Talvez tivesse uns 10 anos. Era um lápis grande e grosso, brinde da madeireira que fornecia tábuas para a marcenaria do pai. Às vezes, sentada no banco do piano, tinha a impressão de ver seu fantasma atravessando a sala. Depois minha irmã cortou todo o fio do telefone com a tesoura.
 

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