terça-feira, 29 de abril de 2008

701-U

Ele nunca soube dirigir. Uma vez peguei o ônibus em frente à faculdade e ele estava sentado ao fundo, lendo. O ônibus estava vazio, mas não tive coragem de cumprimentá-lo. Depois nunca mais o vi. Ele morava no centro e só havia aquela linha, como ele chegava à faculdade sem ser visto? Taxi? Seu salário não era certamente suficiente para isso. Mais tarde, quando comecei a dar aulas, tive vergonha de encontrar meus alunos no metrô. Todos sabem que professor ganha mal, mas o senso comum não elimina a vergonha. Eles podem saber que ganho mal, mas não devem ver. Há uma distância entre a informação e o testemunho. Ele pensaria nisso?

2 comentários:

maria claudia disse...

uáu! vou fazer seu primeiro comentário. ó, sá se é verdade que todo escritor de uma maneira ou outra sempre acaba se colocando no que escreve, não se diminua por tomar metrô. é chic ser do povo. ler um livro sentada num canto do metrô, então, é por demais!

Paulodaluzmoreira disse...

Pois Guimaraes Rosa tomava todos os dias de manha o mesmo onibus para o trabalho na secao de mapas do Itamarati no centro da cidade e, dizem, que ali no coletivo começou a escrever mentalmente muitos dos seus contos que nao tem nada de urbanos nem de cariocas. Ser professor universitario deveria ser motivo de orgulho - eu sou professor e pesquisador e so tenho vergonha de ter saido do meu pais porque nao consegui encontrar ai um salario e condicoes de trabalho minimamente dignos.

 

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