sábado, 28 de fevereiro de 2009

cheirando porra ontem,

moço, estou lendo sentado na praça aos pés da árvore grossa. -foram- tRistes Penas novE anoS ATrÁs (vendo) e depois, menos moço, muito provisório aprender complicado. e provisória a palavra, junto com a dor. jamais durável. sempre outra coisa de novo.diferindo. hoje explícito gosto, as ideias rodando-sempre na mesma velocidade embaraçada. ampliando uma fineza rouca! eu (escutei vendo) e a atenção ao olhar a frente do oceano foi e ainda é uma garantia forte de traição (tradição). E o rio. E as nuvens no mais das vezes. não posso ser alinhado só porque vivo conformes inevitáveis. conformado e forma. cacete! quero biográfico dizer biológico, sentir o farlfalhar desse fora __________ lá!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

a morte do autor já não nos comove, como se nos assemelha esta morte, como somos dele a sua fisionomia pura, a sua gestação de densidades que jamais saberemos o teor... a liberdade, a sua voz... é agora que temos dele a ilusão biográfica, os seus sóis em ramos trincados e os ossos saindo como petalas em um corpo de esferas mudas, decaídas, como o vento passa entre as janelas e se choca nos lençóis de feno... esse ar quantificável, o empunhamos! tão logo sabemos para onde ir e o medo não mais degola! Degola! o tempo, o tempo das sombras aquecidas pelo nunca... o frio da amizade e um coração para cada homem.......................................................................................

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Diário de Estância, XV


Confete encruado entre as pedras portuguesas. O ouro escapado, mina nesses espaços mínimos. Vocês estão bastante quietos, afinal. Não, creio estar falando dos corpos. Como o fim de um disparo. A praça cheia, já não se dança nada. Voltando do trabalho e a mente cumula notas para um romance. O lodo que fazem os corpos, romances, tudo o mais que não se escreve. E pesam, pesam terrivelmente: os corpos, as coisas – as coisas se acamam, afinal. De tudo, nosso tempo, nossa praça (repleta, perplexa, acabou?), tem-se a mesma vista. Onde tudo estonteia e depois cala – a pequena causa de seguir. Talvez amar. Serpentina nas sandálias, o Carnaval toma o rumo de ontem. Eles, não sei o que fazem – farei o mesmo.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

quarta-feira de cinzas no país

Amanheceu. não me lembrava se o sol vinha ao leste ou do oeste até me atravessar a estrada que nos levava pra casa, onde nos fins das tardes à claridade pontiaguda abaixávamos o pára-sol com o olhar incendiando as manchas de poeira seca no vidro. Então eu soube: para lá é o lado do oeste, isso mesmo, a raposo tavares corta meu estado, pés fincados, pensei na união soviética, rodei-me 180 e lancei os braços em ordem: leste, oeste e norte, sul. Por um segundo soube para qual lado de dentro do meu apartamento vives. Encontraria meca? talvez, nalgum estudo mais apurado, mas isso de rezar é coisa que só sei fazer imóvel, em silêncio e para ninguém. sempre estive atrás de uma palavra que me abrisse mundos. Agora já não sei mais.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Malandragem V

Marcamos na pizzaria do sacolão. Fui até o caixa eletrônico mas só tinha dez reais na minha conta. As mesas estavam vazias e sentei no lado de fora. A Rafa chegou no carro da mãe dela e ficamos um tempo num assuntinho qualquer. Então contei do cineasta que eu tinha encontrado no sábado. “Cineasta?”, “Parece que ele fez uns filmes.”, “Rolou alguma coisa?”, “Rolou.” Ela ficou quieta e depois me olhou irritada: “Por que você me conta essas coisas?”. “Achei que você preferia saber.” Ela balançou a cabeça e só disse: “merda”. Eu estava toda carente na verdade, e com fome também. Perguntei se ela tinha algum dinheiro, meus dez reais eram uma triste piada. Ela ficou boazinha e buscou um pedaço de pizza pra mim.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Dissuasão para leigos

"Não adianta, meu filho! Nacionalidades não se formam a tapa e este povo é amorfo, guia-se só por seus próprios interesses: comem, trepam e defecam. Que esperar? Você não está na Anatólia dos anos vinte e nem tem capacidade para transformar-se no motor da raça. Recomendo que vá embora, suas ideias são boas, mas não há espaço para elas. Ninguém quer pôr a cara a tapa, não senhor. Já viu pedras arregimentarem-se e lutar por ideais? Pois é, o que temos aqui são pedras, meu filho. E não há força que as demova do cotidiano aplastrante. Eu tinha um professor de língua nacional que dizia que o país somente melhoraria caso, um dia, houvesse uma revolução onde rolasse muito sangue. E eu acho que ele estava coberto de razão."

sábado, 21 de fevereiro de 2009

ai! café velho

é, também, por exemplo, dizemos assim, o fulano também, eu também, o que você vai fazer hoje?, o que você fez hoje?, nada, vou pra casa, pra casa? (algo difícil de se dizer, penumbra), pra casa?, eu fico lá sem encheção de saco, onde?, na sua casa?, é na minha casa, tem a maior produção, desfile, na minha casa, ei fiquei lá dias também antes de sair agora, e encontrar com você, sabia, sabia, estou fazendo uma autobiografia de performances, sem público, registrando tudo num fotoálbum, chama freak sem perigo (um barulho caindo), ATENTO, no meu apartamento sobre o sofá sem amigo, sem eficácia nenhuma, passos, essa brecha na ordem das coisas!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

óbito do autor

que te dou um dado confessasse haver escrito um de seus posts para mais de mil, coisa que admira e consterna. o que não admirará a ninguém é se setelinhas não tiver nem dez. você, leitor, que nos lê e não comenta, saiba que sofro de urtigas e se escrevessemos para formigas alfabetizadas, as trilhas seriam a carne, so cute, rói rói le roy. ou todo leitor é um silente? conto: o sete linhas está para fazer um ano, dúvida: alçaremos o sétimo mês desse ano? enquanto estamos aqui (get out of town before it's to late) cabe dizer: sexta-feira agora é dia de ninguém! e, saibam, em nossas cápsulas nasce do umbigo essa trilha de açúcar: dou-lhe: umas palavras, minha vida, pago-te com um piparote e adeus, falem com a nossa caixa postal.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Diário de Estância, XIV

Ah, você de costas compridas, pernas e braços; quão pouco criteriosa a tua perfeição. Detesto me ver desse jeito, fica frio, não somos moleques. Talvez você não devesse beber tanto, eu sei, essa é velha. Estação e sursis, a próxima é minha. Teve uma feita, uma moça deixou um drinque alto e colorido sobre a mesa e foi mandriar pelo bar uns dois quartos de hora, não me agüentando, fui lá e tomei. Ela voltou cheia de dignidades, ao que tornei: “mereça seu drinque”. Meu take sobre o amor deve ser parecido. Agora sei que os poemas não vão para parte alguma, e hoje a praça glosada de sol. Gostaria que o choque se figurasse, no entanto. Agora tenho um emprego mas minha educação sentimental vai de mal a pior.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

coletivo de pássaro é avião

amor e maconha em questões: a violência, a paranóia, o sonho, o tédio. mas é tudo no mundo careta mesmo como a gente anda existindo? ou é só maconha e amor demais? chego ouvindo oh yoko, bolando um post não tão adolescente. mas, blog, eu estava no Rio até meio dia atrás,mal aí, ismar furei, e ô calor vida encoxada e fiquei pensando no cazuza, né, marcos, o Rio do cazuza já era? sei lá, de repente, o arpoador lindão eu nunca aquela espuma eu lá na suíça, sabe, eu VI maçãs que crescem em árvores. nada mais me assusta. achava-as inventivas, as maçãs, de repente existiam rolando abaixo. dois meninos gêmeos correm na praça da paz de bermudas amarelas e camisetas brancas, rapaz, os miúdos mesmo já têm toda nossa precariedade e coragem.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Malandragem IV

Peguei minhas coisas e fui pro banheiro. Natália perguntou se podia ficar comigo, eu deixei. Tirei a roupa e ela ficou me olhando. Enquanto estava no chuveiro falamos um monte de coisas bobas, depois saí e me enxuguei. Fomos deitar no quarto dela, que tinha bicama. Ela pediu pra eu contar uma história, contei a história do sapo, acordamos no outro dia, troquei a roupa dela e depois comecei a me vestir. Tirei o sutiã que estava usando e peguei outro. Natália disse: “Você dá ele pra mim?” Aquele sutiã tinha custado vinte e cinco reais. Eu ia ganhar cinqüenta pra passar o fim de semana com ela. Ela não tinha peito nenhum, nem ia poder usar. Mas ela pediu de novo e eu dei.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Futuro

Num estado de direito altamente democrático, o cidadão aqui listado, de número de RG escandido acima, CPF publicado abaixo, é processado pelo Estado por recusar-se a consumir. Sendo o consumo um dos pilares da nossa sociedade e civilização, o cidadão arrolado subverte a ordem e paz garantida pela obediência civil. Ele rasgou seus cartões de créditos em praça pública, conforme detectado por nossa polícia, não trabalha e recusa-se a comprar. Assim sendo, com base nas nossas leis, o cidadão é uma ameaça à sociedade e à nação. Como se trata de um caso grave, cujo tratamento já incluiu a internação contínua num shopping center, o referido cidadão será enforcado, sem direito a recurso, em defesa ao nosso modo de vida e à democracia.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Terça-feira, gorda!

pra betty, pra laura e todas miguxinha

eu vou pro baile // e vou sem calcinha. minina, nessa vida bueiro conseguir o cafu que não seja de elza a neca grande e gorda batendo mole na nossa cara padê barato biquini de chiclete cobrindo meio mamilo cada, e arranjar marido!? a gente vai pra rua ahazando, fazendo as potranca betty e eu, chuchumba, dublando a rihana SEM moicano porque a gente não é obrigada, chocando a família brasileira, "sophya me ajuda!" as barata querem levar a betty embora, ai que sabão é esse creuza?, to linda e suja, laura de vison na aurora, a betty volta e a gente anda, poc poc no ori, porque na calçada é rasteirinha, havaiana gasta, mexe pra você ver, tem gente que come!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

do digitaria

o momento da curva foi exato. estávamos no carro com uma música sem saber se descer em ouro preto ou seguir para a cachoeira da mari. a luz tinha ficado mais clara, eu pensava que a luz tinha ficado aberta. o carro estava cheio de pessoas de caminho indeterminado olhando o dia nascer. ficava mexendo na janela aberta!! desci na escada RACHANDO e abri a porta com chave. eram elas de novo e iríamos voltar para outro preto. era uma coisa (2006) a gente disse no quarto ouvindo. quieto eu frisava. de repente olhei pra frente vi pelo vidro: a estrada chegou num menino andando de fininho em cima dum viaduto (bh). a mecha dela era movimentada, olhando do lado de trás (do carro), balançando. todo mundo desceu.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ávida das tardes! Tudo é matéria de livro, toda intransigência, o vagão inteiro. O pensamento, esta rebelião das formas repetidas, intermitentes... teu sangue bravo na rasante de uma primavera, amamentando o vício da vida. De uma escuridão calórica. Era. Um narrador por toda parte, sem se justapor no tempo, sem paralelismos, campo narrado de tudo até tudo. Na coincidência das partes o parentesco introduz o elogio: desfiguração. Incontinência verbal, jorro, filho. Raiva, política do ar ou mimetismo relativo às grandes massas, os grandes animais dormentes como a rocha, a nuvem, os excessos, o mar rocinante. As oliveiras. A suavidade é bem vinda em um rosto voltado para o nada.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Diário de Estância, XIII


Aprendemos uma nova palavra hoje, crianças: recursividade. Que é quando as coisas dentro das coisas dentro das coisas. Como vim parar nesse escritório? Não sei, foi de repente. A praça não me espelha nem eu espelho a praça. Transitamos (antes de mais nada). Não teve ensejo de pensar o mundo todo. Mas meus braços, pernas, olhos, meu sexo arrogante, o que contiveram? Que diabos abarquei? O que deu pensar? Não se pode ter tudo. Isto não me interessa. Certo, à justa. O que se deve? Devia era ter gritado. Não, fui polido demais e sempre, encastelado. Abriu-se um vão, caí, agora estas janelas batendo-se com paisagens irreais. As mesas dão para um espaço comum, penha branca bem no meio do meu fino delicado tão suave

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

i wanna be your dog

Errada e cristalina. Se houvesse um modo de que o tempo não passasse para nunca, era esse. Tinha pegado a cabeça da amiga e estourado o dente da frente - de leite- na borda da piscina. Diz agora desgraçada. Vinham lá de dentro uns adultos, não tentei mentir, os copos cheios de gelo. A outra chorava e eu também. Mas juro, o sangue doía mais em mim, ela tinha a anestesia da carne roxa. E, de todos, eram eles os mais desesperados, um nervoso ria, e me perguntavam como-como? Não menti: dentro da água tentávamos adivinhar uma a outra as palavras nos berros e os fios do cabelo cresciam algas e aos risos me sufoquei e de repente, nem sei, era isso: sangue sobre o azul. Antes disso nem eu nem ela contamos nada ninguém nunca soube.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Malandragem III

Saí da casa dela umas dez e pouco, fui andando pro meu apartamento. Tava fresco, à noite, eu usava uma sandália de couro trançado meio bege, prendia no tornozelo. Era uma época que eu pintava o cabelo de loiro escuro, gostava de sair na rua toda assim, pensando “sou uma alemã”. Tirei a chave da mochila já no elevador, quando cheguei no meu andar vi a luz acesa por baixo da porta. Não tinha música. Ela estava sentada na minha cama, lendo, muito séria mesmo. "Quem abriu a porta?" - perguntei. "A enfermeira". Depois disse baixinho: "Sabe o que dizem das lésbicas por aí? Que ficam abraçadas a noite inteira, conversando sobre suas mães". "Você quer falar sobre a minha mãe?"; "Ouvi dizer que ela é uma gostosa".

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sem história

Ali, na confluência desta rua com a avenida principal, começa a ponta da quadra, onde temos, nesta sequência: um mercadinho de bairro, uma casa do norte, uma oficina de molas, uma casa de fliperama, um açougue e, por fim, na outra esquina, confluência com a rua paralela a esta, uma padaria. Diante da casa do norte, na mesma calçada, há uma banca de jornal, logo junto à banca de jornal, antes, como quem vai desta esquina a outra, há um orelhão. Logo após a banca, há um bueiro. Guias rebaixadas, cimentado remendado. Divisas recuadas (assim se providencia vagas para os carros). Mais abaixo, há um córrego imundo. Ninguém sabe, mas ali foi uma linda torrente e uma bela encosta. Nada de comércio, nada de esgoto.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A torre

O nascimento aquela euforia de olhos, todos vidrados numa promessa de grandeza que seis anos depois o menino acariciaria na cama, um modo mais confortável de sono. Os treze são uma idade terrível. Trancado no banheiro, era olhar pra baixo e chorar, com medo talvez, mas de quê? Passaria os dias ali, arrancando alegria à força. Mas o susto passaria, a firmeza da carne moldando o espírito, cada vez mais certeza no uso. Aos cinquenta, por vezes, nem se lembrava de tê-lo em si. E não lhe faria tanta companhia aos setenta, embora permanecesse ali sempre um prazer à espreita, de veneno diluido e bote incerto. Ainda que agora pendesse flácido entre as pernas, feito o avesso de um monumento.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

o medo da gente

a epifania, sinto atrás, e isso pouco doce. você chega na porta da área vai direto tomar banho escovar o dente eu como alguma coisa ponho um tênis pra sair você espera no carro. sentamos no bar de cadeira plástico vermelho e pedimos cerveja. o sol no rosto caindo no outro horizonte. as nuvens olhando, dando tchau. pensar na mudança, inútil, é sem saída, dia e noite cercados. eu lembro de quando você pegou o velotrol e jogou no lixo, por que você fez isso eu pergunto, por que jogar o velotrol fora. você com um brilho no olho responde fraco, lurex antigo você diz tive que quebrar uma regra. e a sensação de que seria assassinado, estrangulado por alguém de longe que viria enquanto tomava sol na cobertura.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Diário de Estância, XII


Antes de mais nada, comunhão. As habitações dão para um espaço comum. Esta é pequena. Não tem balanço, não tem coreto. Só bancos. Penso que eu seria mais feliz com um coreto por perto. Sempre que pisasse lá me ocorreriam charamelas, basta isso para que os lábios repuxem, subam, diga X. As coisas como sendo, restam as pessoas que pisam, coisa que não cessa. Trânsito de Tadzios pelo início da tarde, ninguém se abate da vertigem comunal. Porque vertigem, é. Antes de mais nada, vertigem. Antes de mais nada, trânsito. Comum, comunhão, comunal, um dos capítulos deste estudo de Ivo Kranzfelder sobre o Hopper leva o título de “Tirania da Intimidade”. Isso sempre me impressionou um bocado.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

é um equívoco muito fino

E o fogo quando chega a esse estádio, a torcida pulando, inevitável, a maioria das vezes é que você então, goza. Fica constrangido. Como uma flor apoderada entre os meus dedos, a murchar. E aquela sensação da minha força ter de vir menos se não esmaga, e querer gritar é tudo e caralho não me diz o que fazer. Não vejo tesão em violência. Tô sempre lutando por algo. Não essa merda de querer me colocar dentro de um abracinho de freio-puxado. Olha, eu prefiro que a gente se entenda às drogas fortes, aos dromedários. Gostava de ir até o fundo do jardim com o Duda e agitar os galhos perto dos hibisco os morcegos vinham as varetas no céu. Gosto de poder. Agora estou sozinha e terrivelmente incomunicável. Outros até falam comigo. Eu é que não.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Malandragem II

Eu não conhecia ninguém na cidade que servisse de fiador, ou seja, ninguém com salário e proprietário. As pessoas viram proprietárias depois dos 30 ou então NASCERAM proprietárias, eu não conhecia ninguém assim. Na minha família, claro, pais e tios que trabalharam a vida toda economizando e pagando financiamentos, mas eles estavam a 400 km de distância e ainda bem. Eu estava fugindo desesperadamente desse destino implacável de economizar e trabalhar e economizar e trabalhar e por isso dormia entre quatro camas na república das enfermeiras mas estava difícil ser estudante e independente e pobre e lésbica porque para praticar este último adjetivo eu PRECISAVA de um lugar pra transar.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Melancias

O inferno deve ser assim; só que no lugar da água, o fogo. A água vazou do rio e entrou quase dois quilômetros várzea adentro, ou seja daqui, do Parque Dom Pedro até a Porteira do Brás; não tenho galochas; as pessoas enfiam os seus fuscas na enxurrada e os ônibus não se atrevem. A água vai baixar, não será eternamente as tintas do Benedito Calixto e sua várzea inundada que prevalecerão. Ora, terá de baixar. Eu, aglomerado aqui com esse monte de gente na esquina da General Carneiro e da 25 de março só vejo a água barrenta trazer restos de sonhos e cacos de vidas, desde Santo André. Queria mesmo estar mais para frente, junto ao Mercado. As melancias a boiar devem ser mais poéticas.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Bom dia, Fevereiro

Daqui pra frente é um mês inteiro, menos pros velhinhos dum asilo russo que pegou fogo, a Rússia naquele gelo e a velharada morrendo queimada. Em São Paulo, um motorista perdeu o controle da caminhonete e caiu no rio Tietê: também um péssimo jeito de começar: fevereiro. Berlusconi disse que a beleza das italianas é que dificulta a prevenção de estupros. Anna Stella Schic, pianista brasileira renomada, morreu nesta madrugada em sua casa no sudeste da França. Mas muito antes ela já havia parado de tocar piano, quando seu marido, um compositor francês, morreu. Em 1996. Este mês tem carnaval. Minhas avós falam que é coisa do demônio. Uma é católica, a outra evangélica. Mas ambas gostam de ver pela televisão. Porque, admitamos, é muito bonito.
 

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