domingo, 6 de abril de 2008

Para que se prolonguem seus dias na terra

Já velho e ficar órfão: desacreditava. Cinqüenta anos, ele próprio com netos - e o pai e a mãe ainda vivos, fortes, sem sinal de desgaste. Começou a se preocupar. Aos sessenta já estava preocupado o bastante. Não é que não gostasse dos pais, mas aquilo estava errado. "Seu irmão?", perguntavam do pai. "Esposa?", da mãe. Começou a sentir seu próprio corpo falhar: pedra no rim, catarata, câncer de próstata. Foi ficando senil e desconfiado: os velhos nem tosse, nem gripe, nem nada! "Você devia dar graças-a-deus", repreendia a esposa, enojada. Aos setenta teve de ser internado, definitivamente. No leito da UTI, viu os velhinhos entrando, intactos, pela porta. E foi se sentindo pequeno e fraco, como se ainda não tivesse nascido.

2 comentários:

Sérgio disse...

É de fato assustador.

júlia disse...

talvez ele uma espécie de retrato de dorian gray vivo dos próprios pais

 

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