Ela foi procurar uma chave de fenda para consertar a panela de pressão e, no fundo da caixa de ferramentas, encontrou o diário dele. Uma coisa tão feminina, um diário. Ela tivera um apenas aos quinze e não durara um ano. "O que eu mais queria era aprender a tocar clarinete", e em outra página "Hoje eu vi girassóis". Você queria confissões, traição? Ela esperava. Mas havia apenas anotações que ela jamais imaginara ouvir dele, em quarenta anos de casados e ele sempre fermentando aquele silêncio que ela aprendeu a ouvir como falta do que dizer. "Eu gosto de açúcar", estava escrito. Quando ele chegou em casa, ela o olhou de longe; ele não notaria nada de diferente. O caderno estava no lugar e ela não ia tocar no assunto.
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2 comentários:
Adorei isso: "eu gosto de açúcar".
eu também. foi maldoso esse do açúcar, hein, marcolitos? vou por no meu sucrilhos!
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