quarta-feira, 8 de outubro de 2008

sala de aula

Agora o cheiro do halls vermelho, que guardei no estojo porque o professor gostava e a professora falando do bambu. Atrás do bambuzal o Luís lambendo a Jamile na boca. Tinhamos 7 anos. Tudo tão fluído no halls e em mim aquele peso. E as palhas secas, os tênis amarelos, o mundo estalava. O Luís era rude e babava. Tem aranha no bambu cobra também. Mata. A professora disse que o bambu quando morre continua firme em terra por sete anos, rígido dentro da terra. Vivo, ou enquanto isso, o bambu migra verde até virar azul. Lá em cima o céu devolve o verde. Há gaivotas na China? Depois senti muito cheiro de gás na sala de aula como se o gás viesse de mim. Fechei a janela, os olhos, pensei em como aprender um corpo no escuro?

5 comentários:

bernardo rb disse...

"A desvitalização dos afectos que provoca a maré baixa das ondas que os faziam erguer-se no corpo pode levar a que a distância em relação ao mundo exterior se transforme em alienação em relação ao prórpio corpo. A portir do momento em que se interpretou este sintoma de despersonalização como um grau avançado de tristeza, a idéia que se fazia desse estado patológico em que as coisas mais insignificantes aparecem como chaves de uma sabedoria enigmática, porque nos falta a relação natural e criativa com elas, entrou num contexto incomparavelmente fecundo. É nesse espírito que, na ´Melancolia´ de Albrecht Dürer, os instrumentos da vida ativa estão espalhados pelo chão como objeto de um estéril ruminar."

W. Benjamin, Origem do drama trágico alemão
(Trad. João Barrento)

júlia disse...

desculpe a ignorância, b, mas não entendo o que está sendo dito. me explica?

bernardo rb disse...

comenta uma gravura do dürer que tem um anjo assim: http://www.humnet.unipi.it/ital/cd2007/materiali/magiademo/immagini/Durer_Melancolia.jpg

rs entendo quase nada. ele está falando do temperamento melancólico, que tem consciência da finitude das coisas o tempo todo. "Fixidez contemplativa", "meditação estéril". A noção da perda desvitaliza o corpo: "mão sobre o queixo" é um tema de várias figuras, e tem a ver com a figura do estudante. Personagem que está sempre às voltas com as suas limitações. A "despersonalização" é porque o melancólico tem o desejo de observar o mundo e a própria mente do lado de fora. fala em patologia porque a melancolia, na tradição clássica, era considerada uma doença. e ele tá falando do drama barroco - não faço a mínima idéia do que seja, mas não importa, o texto é bom do mesmo jeito -, que pegou uma herança disso do renascimento.

me desculpe o recorte fora de lugar, tava pensando nesse texto e fui ler o seu...

júlia disse...

conheço a gravura do dürer, meu pai tem uma reprodução ao lado da mesa de trabalho ;) bile negra.

e hoje minha boca amarga tem a ver com esse sentimento?

não tem que pedir desculpas não, eu achei foi maravilhoso você colocar um trecho do walter benjamin, ainda mais com tradução do joão barrento que eu admiro tanto o trabalho de tradução dos poemas do celan,

e ainda mais falando da melancolia, e acho que isso tem a ver com o texto seu último, essa postura do ser entre os livros, um vagar, mesmo, tem a ver, gostei de tudo, b., e de todo modo eu entendi o trecho por um limiar carinhoso,

é bonito que as coisas sejam fora do lugar e se encontrem em algum,

beijo

bernardo rb disse...

sim. é o que mais gosto. ainda bem que temos aqui. o mesmo destino pras coisas e pras pessoas. :*

 

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