Durante o Estado Novo o pai tinha tido suas desavenças com o governo, era funcionário público e uns anos antes até pertencera ao Partido, mas tudo ficara para trás. Agora era o filho, sumido e ninguém sabia dele. Metido em passeatas, panfletagem. A família não sabia se fugia do país, se escrevia para a ONU, a mãe chorando o dia inteiro, não deixavam mais a irmã sair de casa. Anastácia, a empregada, continuava cozinhando. Ninguém lhe contava nada, podia ser perigoso, para quem? Mas também, ninguém sabia que a mãe de Anastácia era alforriada, que a avó viera de navio e ninguém saberia que sua filha, anos depois, também faria faxina. E cozinharia com os mesmos temperos fortes e bons, apesar do rapaz morto.
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Um comentário:
e a bisneta de anastácia
magistralmente substituída
poucas décadas depois
por sazon e ajinomoto
arisco alho e sal
molhinho de pimenta
e inflação
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