domingo, 25 de janeiro de 2009

Rio dos mortos

Ele guardava os dias em si. Nunca ninguém morreu perto dele: fabricava o luto no peito apertado de possíveis mortes, a mãe, o pai, qualquer um dos bons amigos que tinha, um animal. Observando os outros mais novos, percebia uma coisa que não queria, que não queria ter, que é a leviandade de quem não perde. Ensaiava, então. Hoje um domingo cinza. Eu olhei da janela do meu apartamento e vi: névoa branca vem do leste, agora esfria, agora começa a chover. Here we are stuck by this river/ You and me underneath a sky/ That's ever falling down down down. Nenhum sabor de companhia naquelas incursões de retardo ele queria. E ainda assim os mortos fabricados - vivos, na verdade - juntavam ao dele os seus corpos de ar. O luto é por nós.

4 comentários:

Sérgio disse...

No mínimo curioso, acentuado ainda mais pelo efeito gráfico.

júlia disse...

achei muito foda isso de você notar que ninguém nunca morreu perto dele

júlia disse...

assiste o filme, sérgio "into the wild", do sean penn. acho que traduziram para "na natureza selvagem", algo assim.

Anônimo disse...

algo rabisca aqui no meu pé
o pé do ouvido
pra eu rever o quarto do filho

 

Free Blog Counter
Poker Blog