segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Válvula

Eloi era metódico. Desmontou, sobre a mesa da cozinha, peça a peça o nosso rádio. Ainda não tínhamos televisão, que veio quase um ano depois. Eu era pequena e olhava o meu primo desmontando o rádio, lavando as peças, uma a uma, numerando-as e marcando complicadas linhas numa folha de papel. A pequena tigela velha logo ficou com uma fina camada de lama. O rádio havia sido pego pelas águas da enchente e nelas havia navegado à deriva. Achamo-lo tombado num canto quando baixou a água. Eloi desmontou-o e limpou-o, mas tanto eu quanto meu pai pegamos nojo do rádio. Não porque a programação tenha piorado, mas porque toda vez que o ligávamos, independente da limpeza, sempre vinha um cheiro de barro seco das válvulas quentes.

2 comentários:

júlia disse...

metálico rasgado em terra

sensóreo, a mudança de gênero ali, outra delicadeza,

gostei sergito gostei

beijo

sabina anzuategui disse...

Que lindo.

 

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