quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

a terra na palma dos olhos

Focou demais, perdeu. Porque se um poeta sobe até o alto da montanha o que faz um poeta? Escava um buraco. Grava um grito dentro da terra. Enterra seus livros o papel ácido pela terra vermelha, sem cerimonial o poeta chora seu pequeno incêndio. Estava cansado dos tampos de granito nas cozinhas, nas mãos das crianças - tão cedo e já negadas. Dos adultos tentando não se atropelar. E as luzes nos postes se acendendo ao fim do dia. Tentava se lembrar, "há maçãs que crescem em árvores, há o pasto". Agora no alto, o poeta se afunda. Não sabe se aproximar dos animais. "O ciúmes é uma galinha entre as paixões. É uma ave que não voa." Esse lirismo de mariposa, pra quem a lâmpada é todo mapa de uma cidade.

4 comentários:

sabina anzuategui disse...

Adorei a segunda e a terceira frases.

- - -

Estranho porque escrever sobre "o poeta" é difícil mesmo.

júlia disse...

obrigada, querida,

mas "o poeta" é quem que você viu aí?

sabina anzuategui disse...

Ah, se você escreve "o poeta" eu imagino um ser abstrato, quase uma caricatura, um símbolo do que seria "ser poeta" em geral.

O Laerte tinha um personagem engraçado assim, meio caricatura, meio lírico.

júlia disse...

entendi, é isso mesmo que eu imaginava ao escrever, mas como você disse que "o poeta" e as minhas sete linhas anteriores faziam uma referência ao drummond, fiquei pensando se de repente você via algum poeta-poeta mesmo, fiquei curiosa

o Laerte é O cara, né?

 

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