terça-feira, 20 de maio de 2008
Máquina azul
Nós escrevíamos toda semana. Eu entregava minhas páginas datilografadas, havia computadores na faculdade mas naquele ano eu não entendia seu uso como essencial. Tinha a máquina de escrever azul que meu pai trouxe de carro, alguns meses depois que passei no vestibular. Apegada a essa máquina, emocionada porque o pai a trouxe sem que eu pedisse. Havia saído de casa meio fugindo, a mochila e o desejo de estar independente, não havia levado nada que pesasse porque simplesmente não podia carregar. Quando o pai apareceu sem avisar, era como se declarasse: você não pode deixar tudo para trás. A máquina era o que você mais gostava. Eu estou aqui para te lembrar.
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3 comentários:
que bonito isso, sabina, o modo como nos ligamos em um objeto. porque tem a ligação e tem o apego, mas onde termina um e começa o outro? as decisões quase sempre são tão inconscientes e de repente estamos ligados à, sabe-se lá, uma echarpe, uma lapiseira, uma mangueira. e as máquinas de escrever sem dúvida são entre os objetos aquelas que têm mais encantos secretos. eu tenho uma vermelinha, cor de fiat uno, que ainda por cima se chama desde a fábrica Valentine.
me lembro da máquina que a julia descreve. tinha uma alaranjada com fontes em letras cursivas. mas acho que o nome não era valentine. sabina, se me permite, depois que aprendi a usar o pretérito mais que perfeito, fiquei enjoada. vc não acho que fica mais charmoso "a trouxera sem que eu pedisse". fica meio clarisse lispector. hihihi.
Hihihi.
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