domingo, 11 de maio de 2008
Tudo vai ficar bem
E quando o meu pai inaugurava a madrugada açoitando os móveis da sala que se curvavam à sua presença e o grito estridente de um copo quebrando rasgava o casulo que velava o meu sono morno sob os lençóis de lavanda que a faxineira lavara no sábado, o choro fino e mudo da minha mãe despencava nos meus ouvidos e era como se as lágrimas que apanhavam na cozinha escorressem pelos meus cabelos e me afogassem por meia hora, uma hora - uma vida - abraçado aos meus joelhos ela me beijava a voz líquida "vai dormir" e ela dormia, e ele dormia, e a noite dormia, e eu dentro de uma noite mais escura que eu acendia fósforos de ira e solidão no que hoje eu diria ser a caixa toráxica da minha melancolia, mas não naquele tempo.
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Um comentário:
De bar em bar
mais um gole de veneno
No duelo entre o copo e a vida
o álcool acabou venceno
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