Bartoli esforçava-se para ouvir com precisão o que a boca desdentada de Tuone pronunciava. O pior não era ter de separar mentalmente cada fonema aspergido pelas gengivas solitárias, mas sim aguentar o bafo pútrido do velho barbeiro. Tuone falava, Bartoli anotava. Tuone era como o último exemplar de uma espécie extinta, ou melhor, era como um animal que guardava um órgão residual que não tinha mais função, mas dizia muito sobre o estado atual das coisas. Ele era o último falante de dálmata, mas não nativo; aprendera-o dos pais. Bartoli precisou das informações para o seu grandioso Das Dalmatische (ainda em âmbito áustro-húngaro). O dálmata morreu anos depois. Língua caquética, pisou numa mina terrestre em 10 de junho de 1898.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
sergito lembrei-me de você me contando do dálmata nas mesas brancas da faculdade, idos anos atrás,
lembra?
uma lambida de dálmata pra você
beijo
gostei do "órgão residual que não tinha mais função"...
redondo e duro
sérgio
que bom
e bem lapidado
Lembro, Júlia, claro que sim...
Às vezes me vem Darwin, Bernardo.
Agradeço, Marcos, pela bola de borracha.
Postar um comentário