segunda-feira, 9 de março de 2009

Branca-de-neve

Numa avenida poeirenta de Cotia, a moça agitava uma faixa: "2 e 3 dorm." e logo abaixo, uma seta vermelha. O ônibus estacou bem ao lado dela. Estava vestida de branca-de-neve, mas era uma branca-de-neve trigueira, à moda local. Era a tarde de um sábado e a moça, vestida de branca-de-neve, estava no turbilhão de poeira e sob o sol forte. A faixa, presa ao seu pescoço, oscilava sobre a sua barriga. É estranho tentar reconstruir a vida de alguém que se vê a esmo, como num acidente visual. As pessoas atêm-se somente ao fato concreto e momentâneo, o resto é divagação. Mas a visão veio: vieram seus filhos correndo de uma casa sem reboque e com gato de energia elétrica. E um marido bêbado e violento. Era sábado, era dia de clichês.

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