Errada e cristalina. Se houvesse um modo de que o tempo não passasse para nunca, era esse. Tinha pegado a cabeça da amiga e estourado o dente da frente - de leite- na borda da piscina. Diz agora desgraçada. Vinham lá de dentro uns adultos, não tentei mentir, os copos cheios de gelo. A outra chorava e eu também. Mas juro, o sangue doía mais em mim, ela tinha a anestesia da carne roxa. E, de todos, eram eles os mais desesperados, um nervoso ria, e me perguntavam como-como? Não menti: dentro da água tentávamos adivinhar uma a outra as palavras nos berros e os fios do cabelo cresciam algas e aos risos me sufoquei e de repente, nem sei, era isso: sangue sobre o azul. Antes disso nem eu nem ela contamos nada ninguém nunca soube.
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2 comentários:
sobre o óbito do autor:
júlia, gosto muito dos seus textos. mesmo. mas sou um daqueles leitores silentes (eu não sou um cara, ok, mas gênero em algumas palavras me dá urticária, então me abstenho). e acho que há mais escritores silentes do leitores. eles sabem disso do sangue e do açúcar, sabem tanto que têm medo - e quase sempre se recusam - a conspurcar o texto de um outro, um texto que os toca num lugar tão longe e tão raro. etc etc etc.
mas enfim. também sofro com a falta de comentários. e ando pedindo esmolinhas por aí: "você leu meu último texto? você gostou? você não achou genial a última frase?". e daí pra baixo.
mas sim, gosto sim, imensamente das coisas que constrói com sangue e açúcar. porque quando não é assim não vale uma lasca de unha. escrever tem que ser com vísceras, tem que ter colhões. o resto é bobagem à tôa.
(tem erros por aí. releve. é sono. tenha uma boa semana
laura)
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