terça-feira, 31 de março de 2009

Ungeheueren Ungeziefer

"Als Gregor Samsa eines Morgens aus unruhigen Träumen erwachte, fand er sich in seinem Bett zu einem ungeheueren Ungeziefer verwandelt." Embora eu nunca tenha despertado na minha cama transformada numa criatura rastejante ou praga doméstica, muitas vezes, depois de frações de tempo em que meu cérebro parou de funcionar, me vi novamente localizada no mundo com a sensação de ter esquecido a carga social e genética que me faziam estar ali, fazendo o que eu estava fazendo. Não me senti como um besouro, mas um inseto genérico moldado por aquela substância cujo nome esqueci, duríssima, que compõe seu corpo crocante e mantém represado o plasma indefinido que se traz dentro.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Clemente Falcão e Engenheiro São Paulo

Sobre o mapa, está traçado tudo o que já houve. O techo de trem que vem do Brás ao Tatuapé aparece liso, à distância; mas se aproximo a vista, duas bolotas na linha preenchida por tracejado preto e branco. Duas estações antigas que ressurgem das sombras e do pó nas quais a modernidade as jogaram. Gritos do passado, traves de corberturas que clamam ou brotam: esqueletos destelhados e despossuídos. Afinal, por que no Tatuapé há o Cemitério da Quarta Parada, sendo que só há duas estações de trem? As outras duas, presas no passado com seus trens defuntos, vivem na memória dos mais velhos (poucos). Quem diria que o passado de cinquenta anos seria tão difícil reconstruir? Arqueologia das novidades.

sexta-feira, 27 de março de 2009

monólogo

you are my center/ when i spin away/ out of control on videotape/ on videotape
Radiohead



o seu peito meu_essa fresta, por que não?_chega mais escutarei_sozinho nas tardes de abril_o barulho dessa coisa_ter saído sorrindo dizendo que sim quando não (isqueiro sem gás) não pedi seu número_pensei praquê_sabe, ganhei um bom-bom esses dias_guardei na bolsa_vai passar pra frente né_lembro da sua voz (furtiva lacrima) convencida perto cinco anos atrás na buaty limpa_eu, você em cada bueiro por aí_seu diabo traz agora a adolescência passando o emprego como uma roupa_continuando_realmente pentear cabelo não é pra mim_o número meu anote é mil novecentos e sessenta e quatro oitenta e nove dois mil e nove. ali na esquina vou comprar_pão_p.s. parabéns pela cueca e pode ficar com o batom.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Diário de Estância, XIX

que espécie de amor é possível nas Laranjeiras?, posto melhor: de que guerrilha bem ao fundo nasce a compulsão de ser fiel? Cano à boca, juramento à praça – figurar a vanguarda da fuga, os pés pelando. Nunca discutiremos política, Peter. Temas de filmes-catástrofe dos anos 70, talvez, mas nunca política. Desertamos a praça e fazemos serenata aos nossos amantes ausentes. E que espécie de amor é possível numa praça? Somos tão ordinários assim, tão comuns (tão comunais)? Os dias rateiam, você dá fé de interurbanos, gelatinosas juras de amor-sublime-amor. Creia-me (believe you me), você acredita. Velhos espigões tremem ao sol. Outono. Quanto a mim, bom, o que posso dizer? Casei-me com meu trabalho.

quarta-feira, 25 de março de 2009

duelo-dueto

Tudo isso começou, de certo modo, nos corredores de uma faculdade de ausências. Eu não sei quando foi a primeira vez, você sabe?, mas sei que uma das segundas foi em frente a biblioteca e alguma contenção. Distante o guardei como um cumprimentar, aos tantos. Quantos anos isso, dois ou três? Não fomos um amor à primeira vista, nem deixamos de ser. Sempre por inteiro. E, no intervalo, houve um café na História em que acostumados a falarmos com outros, não nos ouvimos os paradigmas da ruptura: é pelo novo, isso, conversa de futuro pontuada pelo já é. Não me estranho em dizer que foi esse blogue, teu convite, que nos fez, os melhores amigos. Texto. Agora que somos outros já não tenho mais medo que isso aqui acabe.

terça-feira, 24 de março de 2009

Cortina japonesa

Em meu quarto de menina, no prédio em que moramos antes do pai morrer, cabia a cama e um armário de duas portas. Tinha um espelho na parede e cortina japonesa sobre a janela basculante. Eu achava a casa da Tamy mais bonita que a minha. Não gostava tanto dela, sim de sua casa. Um dia me fechei no quarto, sentei de costas para a porta e tentei colocar um lápis de madeira na vagina. Talvez tivesse uns 10 anos. Era um lápis grande e grosso, brinde da madeireira que fornecia tábuas para a marcenaria do pai. Às vezes, sentada no banco do piano, tinha a impressão de ver seu fantasma atravessando a sala. Depois minha irmã cortou todo o fio do telefone com a tesoura.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Domingo, manhã

Os olhos não se decidem a abrir-se e olhar para o branco manchado no teto. Tampouco as pernas decidem-se a pôr-se fora da cama. A modorra manda, reina e vinga. O desalento ancestral que vem dos ossos e manda morrer. Vislumbra uma cruz de concreto, à ponta de um montículo e à sombra da árvore. Mas não é vontade de matar-se é só de estar longe e em paz. Existe uma vaga alegria: está engarrafada e na geladeira, esperando que a rolha seja sacada. Quando se levantar, começarão as demandas, os pedidos, os ralhos e sarilhos. Tudo de novo, sempre e eternamente. A alma não pode existir. Se existir, as aflições recomeçarão no pós-vida. Por issom atém-se piamente que a alma, senhores, não existe, por um bem maior.

sábado, 21 de março de 2009

I ato último

/–muito prazer, o prazer todo meu –prazer meu sempre –faço sua mala –ofereço minha vida meu flanco minha casinha –te dou minha mala –aproveito tudo –detalhe esse seu sobre o olho, não esqueço –me diz onde assim –então me cata –me agacha/ (queda) –quando vamos –pra onde –é para que voltemos não importa –pra onde caralho –pra casa –essa casa não existe –por favor –(há muito a mesma música não para) não posso –você adia sua entrada no mundo –como entrar assim impossível –você não ama –eu também sou gente porra –paralelamente –agora pisa bem fundo machuca mesmo pra onde hem –(queda) pouco uma casa no campo mudamos daqui –mas num piscar de olhos (uma imagem turva)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Diário de Estância, XVIII

Não tenho com ninguém. Com efeito, rezo para ninguém me aparecer no caminho de casa. O cinema, comunal demais, não tenho estômago. It's a long way (deram pra chiar, esses fones de ouvido). É montar que a vejo sozinha, passando a mão pelos cabelos. Conforme: boa noite e sigo adiante, atrás dum banco só meu. Ela se afasta, agora o assento vago, me aboleto. Não digo nada, não tenho nada a dizer. Conforme. Pergunto o que tem feito, apenas, há tempos não a vejo, bastante para preencher o longo da viagem. Ela diz que tem andado retirada, entre a tese e o emprego na Secretaria, não sobra muita cabeça, menos que nada a dizer. Mas agora, de monografia entregue, talvez torne a ter vontade de ver gente.

quarta-feira, 18 de março de 2009

secretária do invisível

Baby, é uma espécie de catatonismo oceânico. Que nos singra, que te encolhe, que me molha. Tremendamente o canto de uma parede com a outra, fico pra dentro feito galinha. Hipnotizada, anos de quilha da prancha. Então, acorda!, os dedinhos avermelhando e, mulher!, onde estás?, Que assustador. Uma vaca a receber instruções de uma estrela marinha a fim de um homem na idade do tubo. Eu vendo da crista?, foi de espanto!, essa cara pra descarga de vampiro, a dar refluxo em texto. Segredo: o saara é mesmo dentro da gente e tantas conchinhas entre a sede. Acabou outra vez então me aperta pelo punho venho lá no último destinatário e o primeiro é o mesmo. Ao que compreendo que o mundo está entre nossos umbigos. b o c e j o doce.

terça-feira, 17 de março de 2009

Malandragem VIII

Encontramos uma kitchinete pequena e feiosa numa travessa obscura atrás do Hospital Sírio Libanês. O proprietário demonstrou uma gentileza surpreendente ao telefone. Compreendeu perfeitamente que eu era estudante, meus pais moravam em outro estado, eles tinham casa própria e podiam ser fiadores SE ele aceitasse a escritura de outro município como comprovante. Fomos empolgadíssimas até o escritório no Largo São Francisco. Ele nos convidou a sentar, serviu café, discursou fartamente sobre sua compreensão não burocrática e mais profunda da função do fiador - um documento não é nada sem a compreensão do que significa em termos reais. Rafa invocou que o homem estava dando em cima de mim e cancelou o negócio.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Observando o cristianismo (de fora)

Olho de observar. No chão da catedral, em mosaico digno de parede, não de chão, estão, em espaços regulares e entre delicados ramos estilizados três cravos cruzados ao meio: um está na vertical e os outros, obliquamente, entre 30, 35 graus de deslocamente, formando um xis sobre um i. São os cravos de Cristo, claro, estamos numa catedral, uma catedral ao sul. Mas o que dizer da catedral de uma capital do nordeste, que tem um entalhe de madeira dos cravos, igual ao do chão do outro lugar, ou seja, três cravos: dois nas mãos e um pelos calcanhares. Porém, o Cristo anichado logo abaixo traz cada mão com seu cravo, pregando-as à cruz, mas também cada pé com seu cravo, ao invés de um para ambos. Quatro no total.

domingo, 15 de março de 2009

Goiva

Ela abria os olhos de pioneira na gruta clara e brilhante / meu amor, amor são os dedos se mexendo / na nossa cama contou a história mais triste de sua mãe: Tinham acabado de se mudar para o topo de um prédio, ela e o marido, ainda sem vizinhos, e numa tarde de dezembro abortou durante horas, não havia telefone, o filho aos cinco meses e ela teve tempo de medo e de chorar e se dizer: "então é isso" antes que o marido chegasse. Cor marrom lambendo os dentes, meus mamilos e a tua mão no ventre: "eu nunca deixaria que isso acontecesse com você". Subjuntivo sincero de criança. Eu vejo dois úteros grandes, incertos, amorosos / O nariz enterrado nos pelos, fecundando a terra à vista

sábado, 14 de março de 2009

II ato

–está perdido de uma vez agora –o seu nome um último peso em movimento –pro fundo do mar pra sempre –quem diria tão imprevisto –estúpida garrafa náufraga –estou no mudo –bem o fundo salvará o dia –não ouço nada do que você fala não entendo –eles também quase não o escutam –eles? –sua fala desaparece percebo com clareza –é uma palestra que ofereço às quartas (telefone celular na plateia) –um ombro exposto e pequenas contrações no paletó verde-claro –você é disperso –quem poderia lidar com tamanho vazio –claro o público para mim é uma questão, de reflexões –faz sala pra mim agora então –mais um pouco vinho –vou embora –fica –já termina aqui –pra sempre –pois então (vinho para todos os lados)

sexta-feira, 13 de março de 2009

O filho interno

Um ano a gente já diz e pensa da criança que tem estar andando falando contando piada de papagaio usando o peniquinho se formando em filosofia lendo garcia lorca ("sin ningun viento / !hazme caso! / gira, corazón / gira, corazón") você vai ver tá lá parada e baba nem saiu do lugar pega a pasta de feijão lambuza a testa te olha e quase diz: pedra. O brazileira!preta em 2002 era comentado em todas as revistas semanais. E olha no que deu. Aqui é o editorial da lua cheia. Fim de abril está chegando, hipócrita e sem resquícios de crueldade. Te dou um dado? Desta vez acabo em seis.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Diário de Estância, XVII

Peter voltou de Belgrado, desejei-lhe boa sorte com o calor.
Boa sorte com o calor, Peter! Ele é tudo, menos humano.
O crédulo bem poderia fazer confusão, achar que isso aqui é denodamento narrativo. Que o círculo está completo e as crianças que se recolham.
Que tive de trazer Peter de volta, sob pena – lá sei de quê.
Que imagino os contornos da praça abertos, glacê glacial. Hora e meia depois da queda de nossa bastilha magnética. Sorte de principiante. Mas
estou pensando nos meus amigos. No trovão lá fora. Em dedicar-me mais à prosa.

quarta-feira, 11 de março de 2009

pedaço de mim

você que já viu outonos e primaveras, que não lê horóscopos, que é generoso e não sabe falar de amor, que gosta de cachorros e palavras claras, e sorri dois sorrisos como ninguém um largo e aberto e outro que te trava todo o gesto, que gosta de chico, que canta com sotaque de graça, você que não me deixa te roubar, que quando chega me retoma cheia de esperança a retina e a conjugar renitente o tu que desconheço, a dizer, tu tu tu não me deixes será que é essa a conjugaria? não me dê esse deixar-me prometo nunca mais nos mal comunicaremos a não ser pelas nuvens e tecidos de algodão entre esse vinho do porto lágrima aberta a janela durmo por saída lua farta feito o diabo, leva meu neruda, volta, me desculpa, me revoa,

terça-feira, 10 de março de 2009

Malandragem VII

Esse era meu problema. Era mais difícil entender as complicações da Rafa. Segundo me contou, sabia que era lésbica desde muito nova, entre doze ou treze anos. Foi apaixonada pela professora de artes, depois pela amiga da escola de inglês. Nunca discutiu o assunto com a mãe mas esperava que as pistas fizessem o serviço. Música punk, cabelo curto, cortava com "não me encha o saco" qualquer conversa no estilo "você tem namorado?" Parecia realmente uma versão moderna de sua mãe, empresária que entendia de prospecções e graus de investimento, bebia gin e assistia shows na Broadway. Sua mãe me assustava, naturalmente, mas eu vinha de um mundo em que as pessoas jantavam pão de forma diante da TV.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Branca-de-neve

Numa avenida poeirenta de Cotia, a moça agitava uma faixa: "2 e 3 dorm." e logo abaixo, uma seta vermelha. O ônibus estacou bem ao lado dela. Estava vestida de branca-de-neve, mas era uma branca-de-neve trigueira, à moda local. Era a tarde de um sábado e a moça, vestida de branca-de-neve, estava no turbilhão de poeira e sob o sol forte. A faixa, presa ao seu pescoço, oscilava sobre a sua barriga. É estranho tentar reconstruir a vida de alguém que se vê a esmo, como num acidente visual. As pessoas atêm-se somente ao fato concreto e momentâneo, o resto é divagação. Mas a visão veio: vieram seus filhos correndo de uma casa sem reboque e com gato de energia elétrica. E um marido bêbado e violento. Era sábado, era dia de clichês.

domingo, 8 de março de 2009

dosimii le dose tah cehgadno

olha meu tio ele falou que um dia quando ele estava na mata ele viu uma nave pousar ele dise que foi lá ver o que era ele disse que viu um ser estranho saindo de dentro da nave ele disse que o ser chegou perto e dele e combesou a falar uma lingua estranha e depois ele comesou afala portugues e o ser falou para ele que ia leva ele para dentro da nave e o meu tio falou que não ia não pois o ser falou que ia mata o meu tio e meu tio se jogou para o chão e o ser consegiu acha o meu tio e meu tio ficou sem palavras e o ser pegou e meu tio e tipo abrasou e meu tio falou que parecia que o ser ia rasga ele mais o ser andou e foi embora eo meu tio falou que numca mais ele ia entra na mata sozinho de noite pois esse caso foi yreal ele mecontou.

sábado, 7 de março de 2009

III ato

nesse parecer todas as coisas são.
Wallace Stevens
–desconhecido você para mim –eu era minucioso hoje sei –eu –saía realmente tonto –você rouco era conveniência isso sim –bem pontual como uma tristeza acho seu amigo disse –particular demais cara seu modo calado –impossível você querer outro –diga lá de um modo razoável –descansava na almofada como quem não, nada –nada, café demais –pão –geleia, requeijão –bonito você receber bem –domingo de manhã depois de sábado –o sol batia (abre atrás uma janela) –como você fala –falo mesmo (música fininha) agora
–viu –quê –foi muito triste agora –de forma alguma –inexplicável ter ido lhe conhecer –não dá pra entender (olha ninguém) –ninguém –toda hora

quinta-feira, 5 de março de 2009

Diário de Estância, XVI


Desculpe, Gabriel está na cidade. Tanto que fomos parar numa outra praça, aquela da coca. Mas ficamos na cerveja, e bastante cordatos. Essas coisas das quais posso nunca mais voltar me metem um medo – você não dimensiona. Tenho ganas de te abraçar, pedir que você fique, aqui, sempre, esqueço que o que nos constrange a te amar tanto e com tanta – não ria – pureza é justo a mobilidade. Vê, a praça – as praças – que coisa estanque. São as pessoas que caminham o mundo, somos vocês. Desculpe o atraso. Eu te amo com silêncio com humildade com tudo aquilo que você já veio a esperar de mim e na certa acha graça (não duvido que você me leve a sério, isso já aprendi). Mas a verdade, a verdade é que você não entendeu nada.

quarta-feira, 4 de março de 2009

descomunal é o calor desses últimos dias

acordei tendo certeza de que não te amo mais. só consigo ouvir os guindastes e serras elétricas dos vizinhos penso em dentaduras que tremem sobre os criados-mudos ao passe do metrô. é março, o mês levanta o audaz no nome reúne o mar e termina-lhe. me levanto no espelho do banheiro encontro: SIM MAR VERDE com um batom velho. amor é bicho instruído. e muito longe o estádio de futebol. não sei para que os gatos torcem. hoje vou tentar dizer um pouco. mas tenho medo de que minhas palavras sobre nós como oxigênio sobre os braços dos guindastes desencapando ferrugem nas vistas que os homens fazem dos portos, como se ainda usássem chapéus de feltro e sobre a testa uma trilha de gotinhas esbórnia de whisky com doces de ovos

terça-feira, 3 de março de 2009

Malandragem VI

Assim adiávamos a questão. Eu não conseguia entender o problema. Sua mãe me assustava, naturalmente, mas eu vinha de um mundo em que as pessoas jantavam pão de forma diante da TV. Rafa era sempre tão forte e determinada, tinha essa relação estranhamente próxima e brusca com a mãe - uma rispidez sinuosa e inteligente. Por que não podia falar diretamente? Um dia juntei toda minha serenidade para iniciar a conversa com calma. Poderíamos combinar uma estratégia, um comentário casual quando Letícia saísse para o trabalho: “Mãe, a Kátia vai dormir aqui. Várias vezes. Não estranhe.” Rafa se recusava. “Mas por quê?”, ”Não quero. Pronto. Não me encha o saco.”

segunda-feira, 2 de março de 2009

Imprensa

Acordamos na Ubatuba cheia de chuva - tautologias do sono - e fomos para o salão tomar café. Havia também na pousada uma família expandida do interior, muito alegre, que estava a ocupar vários quartos. Sentamos e entre iogurte e talhos de melão escutavamos a ruidosa e alegre conversa. Um deles reclamava: "Não vi o noticiário ontem"; o aparente patriarca retrucou: "Noticiário é sempre a mesma coisa; o que você quer saber que eu te digo. A bolsa? Fechou em queda. O trânsito? A marginal? Continua parada. Futebol? O Corinthians perdeu. O tempo? Hoje chove". Riso geral dos convivas. Mastigando sucrilhos com iogurte e devorando as talhas de melão, pensei, e não é que é isso mesmo? É mais do mesmo.

domingo, 1 de março de 2009

acaso

É um caso de amor fatal. Eu este mês esqueço da conta de telefone, quanto a mim passo perto a sua casa pincho a campainha e saio correndo, a gente fica fugindo de se encontrar e se encontrando de fugir, dá pra entender? Amanhã ele vai embora de avião pra Amsterdam vai ser o general do ar para quem eu conto todas as minhas estórias vividas – e bem vividas – todo dia trinta até que me dê na telha. Eu nem vou te dar meu endereço. O acaso salvou mais vidas que toda a jogatina a penicilina as aerolineas argentinas meu amor daqui pra frente é um pulo e quero ver quem é que vai junto, vou eu vai você jet-lagged e canhão de luz pra dentro e fora desse calor com rosas, azul, suor, plutão.
 

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