quarta-feira, 4 de junho de 2008

a tua presença

Quantos dias que não via o sol, até que a mulher de sempre veio na minha direção, vestindo toalhas de mesa como vestido e, tirando a batedeira de dentro da caixa, imaginei é o meu dia de sorte, resolveu bater um bolo. Passou um pano, tirou o pó mas não a mim da parede da bacia. Bem preso e pronto para me misturar na massa toda, veio um ovo, outro, a farinha, depois o leite. Mal adicionou o açúcar, as espátulas começaram a girar meu mundo ao contrário, feito cavalgassem homens dentro do furacão da Pensilvânia, as casas sendo arrancadas pelos ares junto com as árvores, voando dentro de um grande raio, muito maior do que a cabeça calva dos homens da cidade, que despidos de seus cavalos, dormiam ao relento e à pouca brisa.

7 comentários:

sabina anzuategui disse...

Não sei se entendi direito quem é o narrador oculto... mas isso me lembra uma história horrível. Um amigo estava gripadíssimo e dormiu na casa da namorada, que morava com a mãe. Esta resolveu fazer um suco de beterraba para fortalecê-lo. Mas tinha uma barata na centrífuga e ela não percebeu. O suco era escuro e ele também não percebeu. Quando começou a beber, sentiu algo duro...

júlia disse...

que história terrível essa, dizem que as baratas têm muita proteína.

quanto ao narrador, também não entendi direito quem ele é, nem mesmo se é um narrador, não sei se me preocupo com isso ou se é uma linguagem despersonalizada, poética, não sei bem, não sei.

Anônimo disse...

engolir barata batida no liquidificador vale como epifania?

Anônimo disse...

hahahahahaha. que horror, sabina! mas acho que é isso, né: as baratas aparecem quando a gente menos espera. e de vez em quando faz "croc!".

...

os textos da júlia nem sempre tem narrador - assim como os da ana e, vagamente, alguns do bernardo. é uma coisa que eu tento imitar de vez em quando: esse texto solto, que conta uma história sem "eu" por trás nem pela frente. as palavras são fortes. uma enxutez invejável.

sabina anzuategui disse...

Ah, mas tem um ponto de vista interno à tigela, eu achei. Por isso pensei que o narrador fosse uma bactéria ou algo assim, rs.

júlia disse...

obrigada, marcos mesmo,

eu tendo a achar que escrevo como escrevo porque leio muita poesia. não sei.

ó, sabina, eu acho que você tem razão quando diz que não entendeu porque são duas referências misturadas. ainda mais porque a historiazinha toda saiu de uma espécie de sonho que tive num estado de vígilia um dia desses, em que o woody allen(!) girava dentro de uma bacia de batedeira de bolo, vestido feito aqueles espermatozóides do 'tudo que você queria saber sobre sexo' e ele berrava que o mundo girava ao contrário e eu achei nisso tudo muita graça. pensei que ia escrever isso, veio daí o ponto de vista interno da bacia (hahahaha), mas daí misturei isso com a leitura do seu texto e bem, pensei que bacia poderia ser também as ancas de um corpo, já que se trata do mesmo creme doce das suas sete linhas anteriores,

de todo modo, tento uma dissolução, é isso.

dois beijos.

vera egito disse...

Júlia...
que delícia te conhecer mais lendo suas sete linhas. Ontem, depois da minha frase displicente, você disse " 'isso vai dar um texto' é sempre muito bom". Muito bom é ler o seu texto. Me levou para um lugar de sonho, fluxo de imagens, brilho eterno de uma mente sem lembranças, Sabe?
Ah! e eu também não entendi quem é o narrador (ainda bem)

 

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