segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Sobre a beleza casual e a beleza intencional

Uma coisa é a beleza de rios e lagos e matas. Há gente que a considera a beleza ideal. Porém, a vejo como um acaso; é bonito, claro, mas algo que foi intencionalmente feito para ser belo, pela mão e engenho do homem, é muito mais belo, porque é a beleza intencional e procurada. Não só nas obras de arte, mas também nos objetos cotidianos. Em Paranapiacaba, há o velho pátio da ferrovia, e nele há vagões que jazem e se desfazem; é triste vê-los assim, as chapas esburacando-se sob a umidade constante e alimentando os líquens que lhe nascem sobre. Assim como o museu ferroviário é tristonho: os vagões parados são como as carcaças de boi que jazem no semi-árido, sem água; e aqui não é a morte do acaso, é a morte do engenho.

2 comentários:

júlia disse...

de todo modo acho essa dicotomia entre duas belezas uma natural e outra tecnica algo meio antigo demais, sergio, nao sei dizer, vc sabe o quanto a gente diverge nisso, mas estou mais pensando que as vezes a tecnica pode ter muito de intuitivo, de natural, espontaneo, i´m nature, como dizia o pollock quando lhe perguntavam porque seus quadros nao eram figurativos,
quero dizer, tudo esta no mundo do mesmo modo,

concordo nisso de que vc diz da morte do engenho
mas algo nessa corrosao natural acho mais lindo do que tudo, uma vinganca do tempo,

e, mais, acho que so a beleza do acaso da natureza pode ser infernalmente bonita. ja estive em uma duzia de lugares bonitos de doer mas dai uma diferenca mesmo, nunca achei um predio mais bonito do que o mar, por mais que ele fosse incrivel. acho que se a arte ou a engenharia ou a arquitetura ou a inteligencia chega a isso é de um modo diferente e tambem, mais ainda, inserido num determinado contexto cultural, espacial, etc,

ja a lava, nao, a lava esta embaixo de nos a todo tempo em tudo,

capisci?

Sérgio disse...

Bem, Júlia; faço coro a tudo. Digamos que se trata dum mero exercício de literatura. O mar, claro, concordo, é uma grande exceção a essa concepção.

Quanto à vingança do tempo, sou menos taxativo: atenho-me mais à materialidade. O tempo é impalpável e somente perceptível porque é o termômetro do tédio humano. Sou mais propenso a ver uma vingança incosciente das forças da natureza (biológicas e atmosféricas, nada transcendental). E és això.

 

Free Blog Counter
Poker Blog