sexta-feira, 20 de junho de 2008

cinema (2) - Elefante (Gus Van Sant)

Uma das possibilidades da ficção é empurrar pedras grandes e insistir em caminhos proibidos segundo as regras da não-ficção. Aí eu lembro de momentos em que descobri alguma agressividade potencial em mim. E eu lembro do prazer e das conseqüências de usar esses motivos na ficção e em algum contrário dela. A ficção permite a inconseqüência dos personagens. O não-ficcional pode em teoria isolar-se protegido. Eu sempre aprovo a iniciativa de empurrar mais longe no discurso, para brincar de novidade. Dúvidas tenho sobre carros com muito motor e pouco freio, sobre viver só o presente (e abrir mão da humanidade e dos compromissos), sobre matar criancinhas e sobre a superfície das palavras. Quanto aos personagens, podem morrer todos. Até gosto.

3 comentários:

marcos disse...

tanta conseqüência sem conseqüência. o pé no acelerador, mas o freio de mão puxado. além disso, compromisso não livra ninguém - e quem está livre do compromisso? o menino encurralado num canto, com o dedo no gatilho, se compromete com um fim. mesmo que seja no uni, duni, tê. "humanidade" remete a muita coisa.

júlia disse...

não entendo bem: «alguma agressividade em potencial?»
queres dizer que não aperta o botão disparar mas que fica engatilhado na garganta?

- --

a mim muitos dizem que tenho cara de brava e eu mesma me considero agressivissima que nem sei bem o que fazer, talvez implodir, explodir, escrever, copular, sabe lá,

sabina anzuategui disse...

Também não entendi bem: "caminhos proibidos segundo as regras da não-ficção"... ou segundo o bom senso real, no caso das criancinhas?
Não concordo que os personagens morram todos... principalmente quando morrem por impulsos mal digeridos de escritor. Acho que a gente deve fazer bastante terapia antes de sair matando personagens por aí, ;)

 

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